sábado, 8 de fevereiro de 2014

Conhecimento direto e intuição intelectual

 
Visão direta das coisas em sua luz verdadeira sem passar pela intermediação do mental (manas). O intelecto puro, capaz da chamada "intuição intelectual" ou "inspiração" é um órgão por assim dizê-lo de um nível supra-humano, "posto que é uma participação direta da inteligência universal", segundo René Guénon.

A
intuição intelectual tem, portanto, por eixo à intuição enquanto captação direta da Luz inteligível durante sua passagem ao plano supra-individual, não ao plano da faculdade reflexiva do ser. Graças à intuição, segundo Ibn Arabi, "deixa-se de fazer raciocínios e compreende-se pela luz da intuição" (Tratado da Unidade)


René Guénon: INTRODUÇÃO GERAL AO ESTUDO DAS DOUTRINAS HINDUS
As verdades metafísicas não podem ser concebidas a não ser por uma faculdade que já não é da ordem individual e que o caráter imediato de sua operação permite chamar de intuitiva; mas, certamente, na condição de acrescentar que ela não tem absolutamente nada a ver com o que certos poetas malditos e
filósofos contemporâneos chamam de intuição ou subjetividade infinita, faculdade puramente sensitiva e vital que está propriamente debaixo da razão e não por cima dela. É preciso dizer, para uma maior precisão, que a faculdade de que falamos aqui é a intuição intelectual metafísica e não esta subjetividade inferior dos atuais fazedores de versos.

Esta percepção direta da verdade, esta intuição intelectual e supra-racional da qual os modernos parecem ter perdido até a simples noção, é verdadeiramente o
conhecimento do coração. Tal conhecimento é em si mesmo incomunicável, e é preciso havê-lo realizado, pelo menos em certa medida, para saber o que é verdadeiramente (...) (todo conhecimento particular) é uma participação mais ou menos distante do conhecimento por excelência, assim como a luz da lua só é um pálido reflexo da do sol (...) o conhecimento do coração é a percepção direta da luz inteligível, essa luz do Verbo com ''V'' maiúsculo de que fala São João no começo de seu Evangelho e não a verborragia poética de poetastros desarranjados.

Frithjof Schuon: O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
Sempre em conexão com a
inteligência, precisamos focalizar ainda uma outra quaternidade, cujos elementos constitutivos são para as quatro qualidades descritas o que as regiões intermediárias são para os pontos cardeais. Esses elementos são, por um lado, a razão e a intuição e, por outro, a imaginação e a memória, o que corresponde aos eixos norte-sul e leste-oeste. A razão não gera a intelecção, mas a coesão, a interpretação, a ordem, a conclusão. A intuição, que é o seu oposto complementar, gera a percepção imediata, embora velada e mais frequentemente aproximativa, sempre no plano dos fenômenos externos ou internos, pois trata-se, aqui, do mental e não do puro Intelecto. Quanto à imaginação e à memória, a primeira é prospectiva e gera a invenção, a criação, a produção a um grau qualquer; a segunda, pelo contrário, é retrospectiva e gera a conservação, o enraizamento, a continuidade empírica. Poderíamos acrescentar aqui que a qualidade da razão é a justiça, que é objetiva; a da imaginação é a vigilância, que é prospectiva; e a da memória é a gratidão, que é retrospectiva.

François Chenique: SARÇA ARDENTE
Vimos que o
conhecimento metafísico, que consideramos com São Boaventura como sendo de ordem sobrenatural1, se efetua por um "poder" de ordem supra-humano que é o intelecto, e isto em uma "iluminação"2 que alcança uma "intuição intelectual".

Quem diz "intuição" diz
conhecimento imediato, logo sem intermediário e forçosamente infalível. Em sua ordem o conhecimento intelectual é análogo à sensação que se opera também sem intermediário. O intelecto percebe na ordem do conhecimento metafísico, e, como todo conhecimento, o conhecimento metafísico comporta a "identificação" do sujeito e do objeto. Aristóteles diz no Livro De Anima que a "alma é em um sentido todas as coisas", pois "o ato do sensível e aquele do sentindo são um só e mesmo ato". Na sensação, "sensível" e "sentindo" têm um ato comum "subjetivado" no último; na intelecção, o intelecto e o inteligível se unem em uma identificação muito mais profunda dos dois termos. Tomas de Aquino retomou a doutrina de Aristóteles e a precisou pelos diversos "graus de identificação" que variam segundo a natureza dos seres conhecentes. A doutrina da Escola se resume no adágio célebre: "Intellectus in actu est intellectum in actu (intelecto em ato é o inteligível em ato) (I Sentenças). No conhecimento perfeito, Conhecimento, Conhecedor e Conhecido nada mais são que um só.

Falamos de "intuição intelectual". Em
realidade a intuição verdadeira é sempre de ordem intelectual, mas o abuso do qual esta palavra foi objeto exige que lhe adjunte um qualificativo.


 

Carlos Castaneda:
Ele o definia como um estado natural da percepção humana, no qual os pensamentos são bloqueados e todas as faculdades do homem operam de um nível de consciência que não requer a utilização do nosso sistema cognitívo diário.
Dizia que o corpo funciona normalmente, mas a percepção se torna mais aguda. As decisões são instantâneas e parecem provir de um tipo especial de conhecimento que é destituído de verbalizações mentais.

De acordo com Dom Juan, a percepção humana, funcionando em condição de silêncio interior, é capaz de atingir níveis indescritíveis. Alguns daqueles níveis de percepção são mundos em si e de modo algum são como os mundos alcançados através das práticas do sonho lúcido. Eles são indescritíveis e inexplicáveis em termos dos paradígmas lineares que o estado habitual da percepção humana emprega para explicar o universo.

No entendimento de Dom Juan, o silêncio interior é a matriz para um passo gigantesco de evolução: o conhecimento silencioso ou o nível da consciência humana no qual o saber é automático e instantâneo. Nesse nível o conhecimento não é produto da cogitação cerebral, da indução e da dedução lógica ou de generalizações baseadas em semelhanças e diferenças. No nível do conhecimento silencioso não existe nada a priori, é iminentemente agora. Peças complexas de informação poderiam ser captadas sem quaisquer preliminares cognitivas.

Dom Juan acreditava que o conhecimento silencioso era insinuado para o homem primitivo, mas que o homem primitivo não era realmente o possuidor do conhecimento silencioso. Tal insinuação, no entanto, era infinitamente mais forte do que a que o homem moderno experimenta, na qual a carga de conhecimento é produto de aprendizado rotineiro. É um axioma da cultura xamanica tolteca o fato de que, embora tenhamos perdido aquela insinuação, a avenida que conduz ao conhecimento silencioso estará sempre aberta ao homem através do silencio interior.

Dom Juan ensinava a linha inflexível da sua linhagem: que o silêncio interior deve ser obtido através de uma pressão consistente de disciplina. Precisa ser acumulado ou armazenado pouco a pouco, segundo por segundo. Em outras palavras, a pessoa precisa se forçar a ficar em silêncio, mesmo que seja apenas por alguns segundos. De acordo com Dom Juan, era conhecimento comum entre os antigos que, se a pessoa persiste, a persistência supera o hábito e, assim, é possível chegar a um limiar de segundos ou minutos acumulados, que difere de pessoa para pessoa. Se, para um determinado indivíduo, o limiar do silêncio interior for de, por exemplo, dez minutos, uma vez que esse limiar é atingido, o silêncio interior acontece por si mesmo, espontaneamente por assim dizer.
 Quando paramos o mundo, o mundo que paramos geralmente é o que é mantido pelo diálogo mental interno. Uma vez que você para o blá-blá-blá interno você para de manter este mundo. A descrição entra em colapso. É quando começa a mudança....
Don Juan chamava isso de ''CAMBIAR (mudar) DE VELOCIDAD''

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