quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

(Busca Intermitente) entre parênteses




« A Busca Intermitente», de Eugéne Ionesco é um livro impressionante e absorvente. Por estranho que pareça, no criador do Teatro do Absurdo, o autoretrato a traço carregado daquele que tem sido um dos dramaturgos modernos mais representados, mais discutidos, mais polémicos e, paradoxalmente, também um dos menos honrados. Quando alguém fala de si mesmo nem sempre fala do seu umbigo mas, como faz Ionesco, do que possa tocar outras pessoas que «trabalham no mesmo comprimento de onda»... A visão tremendista e «pânica» de Ionesco, tantas vezes expressa nas suas peças de teatro como « O Rinoceronte», «A Cantora Careca», «As Cadeiras» é esta «implacável verdade», sempre presente nas suas peças teatrais - sem quimeras, sem ilusões ideológicas, místicas ou religiosas - é esta lucidez radiográfica que faz transparecer neste livro o lado menos teatral e mais íntimo da sua mensagem artística.


O ''Parêntese'' (do grego παρένθεσις, "inserção") é uma doutrina e um método tibetano, budista e sufi, além de ser uma linhagem artística ocidental que William Buttler Yeats refundou e continuaram Proust, Joyce, Kafka, Borges e Cortázar, no contexto do ''feito estético como iminência de uma revelação que não se produz''. Ionesco expõe com claridade magistral esta doutrina do ''Parêntese'' em ''A Busca Intermitente''..pp 22-24, no diário 2, Passim, e em todas as suas peças teatrais. Ela também se ''revela'' na frase do escritor e filósofo argentino Héctor Alvaréz Mureña: ''A vida é um parêntese entre o nascimento e a morte''.

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