sábado, 11 de janeiro de 2014

A auto-imagem

O estado natural do nosso ser é a atenção plena: uma atenção que não é voltada para uma dada coisa, mas que é um estado de experiência pura que abrange todas as coisas. Dentro da atenção plena, nossa mente é equilibrada, leve, livre e flexível. Não somos, no entanto, capazes de permanecer dentro dessa atenção plena, pois nossa inclinação imediata é querer saber quem está vivendo o quê. Em consequência, a atenção plena cede lugar à nossa consciência comum, que divide nossas percepções em sujeito e objeto, criando como sujeito uma "auto-imagem", o "eu". Mas o que é, na verdade, este "eu" ? Será que podemos, de fato, encontrá-lo em algum lugar na mente ? Quando olhamos com cuidado, vemos que o "eu" é simplesmente uma imagem que a mente projetou. Este "eu" não tem realidade alguma em si; no entanto, nós o tomamos como real e o deixamos gerir as nossas vidas. O "eu", então, obscurece nossa atenção plena e nos separa da nossa experiência, dividindo-a em um pólo subjetivo e um objetivo.


Sob a influência da auto-imagem, perpetuamos esta orientação sujeito-objeto. Tão logo nos identificamos, começam as comparações; logo em seguida surgem tendências à posse e ao egoísmo. A mente, então, põe-se a fazer discriminações e julgamentos que provocam conflitos. A auto-imagem fornece energia a estes conflitos, e estes conflitos, por sua vez, alimentam a auto-imagem. Desse modo, a auto-imagem perpetua-se a si mesma, tendendo a filtrar as experiências de forma a só permitir espaço para que as suas próprias estruturas rígidas funcionem. Desprovida de abertura e de aceitação, a auto-imagem nos aprisiona em bloqueios e limitações. O fluxo natural da nossa energia fica interrompido, e a nossa sensibilidade de resposta, bem como a pofundidade da nossa experiência, ficam com a amplitude seriamente diminuída.


A fim de nos libertarmos da interferência da auto-imagem, e para que nosso equilíbrio natural tenha espaço para atuar, precisamos primeiro ''ver'' que a auto-imagem não é uma parte autêntica de nós mesmos, que nós não precisamos dela, e que, de fato, ela obscurece o nosso verdadeiro ser. Uma forma de conseguir isto é dar um passo atrás e observar nossos pensamentos e reações emocionais automáticas e impensadas, sempre que estivermos em meio a uma fermentação psico-social.


Mesmo quando estamos muito perturbados, é possível nos separarmos da fumaça tóxica do desequilíbrio emocional. Recue um pouco e, de fato, olhe para sua mente enquanto ela ainda está confusa e agitada como uma água turva e barrenta, pois a poeira só desce para o fundo se a água da mente se acalmar. Com este conhecimento, você pode ver que a perturbação é, na verdade, causada pela auto-imagem e pelas reações emocionais impensadas que a defesa da sua auto-imagem te obriga.



É fácil perceber que o Tonal dos nossos tempos, o Tonal ocidental, possui a fraqueza do narcisismo. O problema não é a tautologia ou a dialética, pois esses são modos do jogo; o problema é a perfeição do sentido que tal jogo tem para nós, pois dificilmente conseguimos, ou melhor, queremos, variar as regras. Jogamos o jogo da duração, e fazemos do mundo um palco onde possamos encenar nosso compromisso. Palco da vida no qual jogamos o jogo do duplo e inventamos pares que se remetem mutuamente: empírico e transcendental, essência e aparência, qualidades primeiras e qualidades segundas, fatos e valores, natureza universal e cultura relativa, inato e ação humana, semelhança e diferença; .dicotomia universal do osso e da carne. (Duvignaud 1979:80), elementos do nosso pensamento, realidade atualizada pela ação vesga dos atores, membros comprometidos com um modo de descrição: a representação, o modo da dobra, a .fonte principal de infecção. (Latour 2004:78). Como vimos no capítulo anterior, os limites, as positividades, as fronteiras, atualizam a dobra do espaço no tempo ou do tempo no espaço . atualizam o tempo e o espaço como dobra, intervalo. Assim, é possível o .quadro. que permite ao pensamento .ordenar. as similitudes e as diferenças, permite à linguagem se entrecruzar com o espaço e fundar o .lugar. onde o contínuo do tempo pode vir a repousar, a durar (Foucault 1999: XII). Lugar como .tábua de trabalho. (Foucault 1999: XII), solo positivo prenhe de positividades (de vida, trabalho e linguagem) que posicionam o olhar, determinando e delimitando a ação e a atenção. Com que descrição ocupar o intervalo? Com a do lugar, o corpo estabelecido, determinado, estado, significado pela linguagem . figuração de um significante. Ocupar um lugar é possuir uma forma, ponto de vista que se reflete no espelho.



















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