segunda-feira, 27 de maio de 2013

O tempo se cumpriu


Hans Jonas — A RELIGIÃO GNÓSTICA
Chamada de Fora

Excertos traduzidos de The Gnostic Religion

O símbolo da chamada como a forma na qual o transmundano faz sua aparição dentro do mundo é tão fundamental para o gnosticismo oriental que podemos até designar as religiões mandeana e maniqueísta como "religiões da chamada"1. O leitor se lembrará da conexão estreita que se tem no Novo Testamento entre audição e fé. Encontramos muitos exemplos nos escritos mandeanos: a fé em resposta à chamada do além que não pode ser vista mas ouvida. O simbolismo maniqueu chegou a hipostasiar a "Chamada" e a "Resposta" em figuras divinas separadas. No Hino da Pérola, a "carta" que os celestiais enviam a seu exilado no mundo chega a ele como uma "voz".

Na elaboração de Valentino, a chamada é especificamente a chamada pelo "nome", i.e., o místico nome espiritual da pessoa, desde a eternidade "inscrito" por Deus no "livro dos vivos".

A chamada pode também se referir à chamada apocalíptica anunciando o fim do mundo.
NOTAS

1. "Chamador da Chamada" é o título do missionário maniqueu; até o tempo do islamismo a palavra para missão era "chamada", para missionário, "chamador".


(...)

"O tempo se cumpriu". Chegou o tempo para que o mundo, o homem, busque e encontre o verdadeiro Reino de Deus; o tempo em que vai ser divulgada a Boa Nova.

"O Reino de Deus está próximo". Nisto consiste a Boa Nova; em que se os notifica que o Reino de Deus está próximo, em proximidade absoluta, dentro de vós. O Filho de Deus, "o que é", é a a essência, a Vida eterna em si mesma, o Vivente, isento de todas as tendência ou modificações que levais aderidas em vossa consciência e que os convertem em sepulcros caiados, em mortos que enterram seus mortos.

"Convertei-vos". Este é o trabalho "religioso" que agora os compete realizar. Voltai-vos para vosso interior, a vossos pensamentos, a vossas tendências condicionantes. Descubrais-vos "como mortos que retornam à Vida (Rom 6,13). Conheçais-vos. "Revelai ao Filho em vós" (Ga 2,16). Esta é a obra difícil que consiste em que submerjais muito profundamente nas águas de vossa psyche; batizais-vos em vossas obras mortas. Buscai e vede o que em vós é morto, para ressuscitar como vivos para sempre em Cristo, "pois o Deus de que vos falo não é um Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem por ele" (Lc 20,38). Assim chegareis a descobrir e mais tarde a realizar "unificadamente" que Cristo em vós, "o que é", é a Ressurreição e a Vida.

"Crede na Boa Nova". O Reino do Pai se estende sobre a terra e os homens não o veem (Evangelho de Tomé - Logion 113). A causa disso é que não são limpos de coração. Mas agora, por meio da purificação nas águas de vossa consciência, pela prática continuada da Conversão ou metanoia, saireis da Noite escura em que viveis, porque tereis conhecido a Deus, ou melhor, Ele os terá conhecido (Ga 4,9) e seu conhecimento é a Luz, o Conhecimento perfeito. Vossos olhos ficarão abertos desde então à fé; sabereis que Ele é, e crereis firmemente na Boa Nova.


domingo, 12 de maio de 2013

Caminho e combate



Vajrayana (devanágari: बज्रयान; em mongol: Очирт хөлгөн, Ochirt Hölgön), também chamado de mantrayana, tantrayana, budismo esotérico ou tântrico e Veículo do Diamante (chinês: 金剛乘, jīngāngshèngjaponês: 金剛乗, kongōjō) , é um conjunto de escolas budistas esotéricas. O nome vem do sânscrito e significa "veículo de diamante".
vajrayana é às vezes considerado como uma extensão do budismo maaiana(mahayana), uma vez que ele difere primariamente na adoção de técnicas adicionais (sânscrito: upāya, "meios hábeis"), ao invés de propor uma filosofia distintamente diferente.
mahayana possuiria assim dois caminhos de prática: o sutrayana, que prega o aperfeiçoamento através do acúmulo de mérito e sabedoria gradualmente, e ovajrayāna, que prega a tomada do fruto - a iluminação - como o caminho.
 Por isto mesmo, um estado de luta também representa um “estímulo” importante na contenção necessária, considerada extremamente difícil sob condições normais ou “naturais” – e este é apenas um exemplo de como emergem os valores espirituais da cultura guerreira. E neste caso, a presença do mestre auxilia na elevação das energias contidas, permitindo levar mais a sério os processos em questão. Tal coisa lembra uma frase do Mestre Morya: “a iniciação depende da presença e dois pilares: o Mestre e o Inimigo”. O Ensinamento da Agni Ioga, inspirado por este mestre, integra o contexto da iniciação solar

Post Scriptum

Nesta relação muito sumária, além dos perenialistas de ontem e de hoje, guias da Tradição Perene ou do "caminho sem caminho", defensores do privilégio à intuição intelectual, ao verdadeiro e tradicional μέθοδος (meta-hodos; hodos = caminho; meta = além do), indicam-se também àqueles eventualmente por eles referenciados e outros que consideramos notáveis, especialmente por seus próprios passos na trilha do verdadeiro conhecimento, recolhendo como abelhas na floração da Tradição, aqui e acolá.. Vale lembrar, como esclarece Miguel Asin Palacios em seu estudo sobre Ibn Arabi, que a vida espiritual de há muito é considerada como caminho e combate. Citando Santo Agostinho, que a denominava "viagem e caminho" (iter, via), e João Clímaco que a chamava xeniteia (viagem ao estrangeiro), Asin Palacios acentua a dimensão luta, combate da alma contra os vícios, para vencê-los e adquirir as virtudes opostas. Os ascetas cristãos a chamavam por isto de agonisma, como os muçulmanos de mochahada.

Whitall Perry nos oferece inúmeras citações dos caminhantes em seu magnífico Tesouro da Sabedoria Tradicional. Em um dos capítulos dedicado à Peregrinação, nos introduz ao tema apresentando brevemente a noção tradicional de "Caminho":

Tao pode ser traduzido simplesmente como “Caminho”, assim como no budismo, o Maha-yana é o “Grande Caminho”, e no Hinduísmo o Deva-yana é o “Caminho dos Deuses”, enquanto na cristandade Cristo diz, “Eu sou o Caminho”. No judaísmo, Moisés conduz os israelitas para fora do Egito e mostra o Caminho para a Terra Santa, também no Islã o Profeta conduz o Caminho à Meca. Interiormente este é o “Reto Caminho” (sirat al-mustaqim; a tariqah sufi = Caminho), o “Caminho Estreito” dos Evangelhos, e “Estrada Vermelha” dos Sioux, ou “Santo Caminho” (Shodo) dos japoneses. Todos estes Caminhos alcançam sua confluência no Eixo do Mundo, que une os deferentes estados do ser a sua Fonte incriada. O Caminho pode igualmente ser visto como uma Peregrinação (a Jerusalém, Meca, Lhasa, Benares, Ise), ou como a Demanda (do Santo Graal), do Paraíso Terrestre, da Fonte da Imortalidade) ou a Viagem.

No princípio era o Verbo


 



O conceito tradicional para dizer a verdade, é aquele de luz. Ora a verdade não é compreendida como luz senão porque já é entendido que a verdade da qual se trata é aquela do mundo. O que é verdadeiro em um sentido imediato, é o que se vê, ou se pode ver. Mas isto que se vê, só se vê na luz do mundo, na medida que só se vê isto que se mantém diante do olhar, “no de fora”, e que o mundo é este “no de fora” como tal. É esta equivalência entre luz, mundo e verdade, equivalência que vai por si mesma e se encontra retomada sem outra forma de processo pela quase-totalidade das concepções do conhecimento, do saber, da ciência e precisamente da verdade, quando acontece que esta seja considerada por ela mesma, como é o caso com a filosofia, que se encontra rompida no Prólogo de João.
Muito notável é aqui o fato que é precisamente no momento onde é questão da vinda do Cristo no mundo, vinda ao mundo que significa segundo o pensamento grego uma vinda na luz, que o conceito mundano desta se encontre barrado – esta luz do mundo se invertendo e se abolindo em seu contrário: as trevas. À luz do mundo que designa agora as trevas se opõe então a “luz verdadeira”, a qual não é outra senão o Cristo em sua revelação própria. Uma série de implicações decisivas que é impossível desconhecer ou ocultar se propõe então. Na vinda ao mundo, enquanto ela é uma vinda à luz, o que vem ao mundo, quer dizer na luz, se mostra nesta tal como é e, desta maneira, iluminado por ela. Se iluminando nela, encontrando nela sua própria estadia, é recebido por ela, recebido pelo mundo. Impossível por outro lado opôr a esta vinda ao mundo a luz ela mesma, a qual se encontra constituída por esta vinda ao mundo e se identifica a ela. De tal maneira enfim que em termos de luz só há uma, aquela deste mundo, e que, por esta razão precisamente, verdade e mundo só fazem um.
O fundamento desta série de implicações – a equivalência luz/verdade/mundo – vacila quando, no versículo 9 do Prólogo, João declara: «A luz verdadeira (…) veio neste mundo». Que esta luz veio no mundo pressupões que ela não lhe pertence. Se não como, sendo aquela deste mundo, se iluminando no ek-stase de seu “no de fora” e se produzindo ao mesmo tempo que este – como, idêntico a ele e tão antigo quanto ele, poderia bem aí vir? Só vem no mundo uma luz diferente desta luz do mundo, e João quebra toda equivalência possível entre luz e mundo em um só movimento pelo qual opõe à luz do mundo uma luz verdadeira que, de um mesmo movimento, rejeita nas trevas e reduz à estas a luz deste mundo.
É nesta reviravolta dos conceitos fundamentais da fenomenalidade e por causa dele que explode o drama do qual todo o cristianismo é a história. Porque a verdadeira luz é estranha àquela do mundo, ela pode precisamente não ser reconhecida neste, mais radicalmente ela não pode o ser. E é então que esta luz incapaz de se mostrar naquela do mundo, desqualifica este e a luz que lhe é próprio, fazendo dela seu contrário, as trevas. A luz do mundo não é as trevas em si mesmo: ela torna manifesta a sua maneira, exibindo nela pedras, água, árvores e mesmo homens na medida que eles aparecem eles também iluminados por ela, tais como entes neste mundo. Mas porque a luz do mundo é incapaz de iluminar de sua luz, de exibir nela e assim de receber a verdadeira Luz cuja essência é a Vida em sua auto-revelação, seu poder de tornar manifesto se modifica na impotência radical de o fazer nisto que concerne o Essencial: esta auto-revelação da Vida que é o Verbo, o Verbo de Vida. Esta transformação súbita da luz do mundo em Trevas quando surgiu a Vida se auto-revelando no Verbo, é isto que dizem com uma densidade inusitada os versículos 4 e 5 do Prólogo: «Nele estava a Vida, e a Vida esta a luz (…) E a luz brilhou nas trevas. E as trevas a rechaçaram». Este deslocamento súbito do poder de iluminação da luz do mundo se modificando em trevas quando aparece a verdadeira luz cuja essência consiste na revelação do Cristo como auto-revelação da Vida absoluta, é o Cristo ele mesmo que enuncia: «Eu, é como Luz que vim no mundo, a fim que quem quer que creia em mim não permaneça nas trevas» (Jo 12,45).



Última modificação em 25 de Abril de 2011 14:58:18 BRT

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Ponto crítico


http://nagual.orgfree.com/forum/viewtopic.php?t=10

( Lado Ativo do Infinito - Carlos Castaneda )

Don Juan definiu o silêncio interior como um estado particular de ser onde os pensamentos são eliminados e a pessoa então age a partir de um nível diferente daquele da percepção do dia-a-dia. Ele enfatizou que o silêncio interior significa o cancelamento do diálogo interno – o companheiro perene dos pensamentos – e que desse modo era um estado de profunda quietude.

"Os feiticeiros antigos," disse don Juan, "chamavam de silêncio interior a esse estado porque é um estado onde a percepção não depende dos sentidos. O que funciona durante o silêncio interior é uma outra faculdade que o homem possui, a faculdade que faz dele um ser mágico, a mesma faculdade que foi suprimida, não pelo próprio homem, mas por uma espécie de influência externa."

"Que influência externa é essa que suprimiu a faculdade mágica do homem?" perguntei.

"Esse é um tópico para futura explanação," replicou don Juan, "não está sendo objeto de nossa presente discussão, embora ele seja na verdade o aspecto mais sério da feitiçaria dos xamãs do México antigo.

"O silêncio interior," continuou ele, "é a plataforma da qual tudo o mais é projetado pela feitiçaria. Em outras palavras, tudo o que fazemos nos conduz a essa plataforma, que, como tudo o mais no mundo dos feiticeiros, não revela a si mesmo a menos que algo gigantesco nos sacuda."

Don Juan disse que os feiticeiros do México antigo arquitetaram um sem número de caminhos para sacudi-los, a si mesmos ou a outros praticantes de feitiçaria, dos pés à cabeça com a finalidade de conduzi-los ao cobiçado estado de silêncio interior. Consideravam que os atos mais disparatados, que pareciam não ter nada a ver com a busca do silêncio interior, tais como, por exemplo, pular de cachoeiras ou passar a noite dependurado de cabeça para baixo do ramo mais alto de uma árvore, eram pontos chave que despertavam-no.

Seguindo as bases racionais dos feiticeiros do México antigo, don Juan afirmava categoricamente que o silêncio interior era algo acumulável, algo que pode ser desenvolvido aos poucos. No meu caso, ele esforçou-se para guiar-me no sentido de construir um núcleo de silêncio interior em mim mesmo, e depois adicionar a ele, minuto a minuto, novas porções pela prática em cada momento oportuno. Ele explicou que os feiticeiros do México antigo descobriram que cada indivíduo tem um limiar diferente de silêncio interior em termos de tempo, isso significando que o silêncio interior deve ser mantido por cada um de nós por um período de tempo correspondente ao seu limiar particular antes que possa funcionar.

"Qual é o sinal que indica que o silêncio interior esteja funcionando, don Juan?" perguntei.

"O silêncio interior começa a funcionar a partir do momento em que começa a ser acumulado," replicou ele. "O que os antigos feiticeiros buscavam era o resultado final, dramático, definitivo de se atingir o limiar individual do silêncio. Alguns praticantes muito talentosos necessitam apenas de alguns minutos de silêncio para atingir o cobiçado gol. Outros, menos talentosos, necessitam de longos períodos de silêncio, talvez mais de uma hora de quietude completa, antes de atingir o fim desejado. O resultado desejado é o que os feiticeiros chamam de parar o mundo, momento em que tudo ao nosso redor deixa de ser o que sempre foi.

"Esse é o momento em que os feiticeiros retornam à verdadeira natureza do homem," continuou don Juan. "Os feiticeiros também chamavam-no de liberdade total. Ele é o momento em que o homem escravo transforma-se no homem livre, capaz de feitos de percepção que desafiam nossa imaginação linear."

Don Juan assegurou-me que o silêncio interior é a avenida que conduz à verdadeira suspensão do julgamento – a um momento em que os dados sensoriais emanados do universo ao largo cessam de ser interpretados pelos nossos sentidos; um momento em que a cognição cessa de ser a força com a qual, através do uso e repetição, é tecida a natureza do mundo.

"Os feiticeiros necessitam de um ponto crítico para ajustar o funcionamento do silêncio interior," disse don Juan. "O ponto crítico é como a massa que o pedreiro coloca entre os tijolos. Só quando a massa seca é que os tijolos soltos transformam-se numa estrutura."

Desde o início de nossa associação, don Juan inculcou em mim o valor, a necessidade do silêncio interior. Eu fiz o melhor possível para seguir suas sugestões para acumular o silêncio interior, segundo por segundo. Eu não tinha nem modo de medir o efeito dessa acumulação e nem tive nenhum meio de julgar se atingi ou não qualquer limiar. Eu apenas aspirava evasivamente acumular o silêncio interior, não apenas para satisfazer don Juan mas porque o ato de o acumular tornou-se um desafio em si mesmo.

Um dia, eu e don Juan passeávamos despreocupadamente pela praça principal de Hermossilo. Era no início de uma tarde de um dia nublado. O ar estava quente e seco e realmente muito agradável. Havia grande número de pessoas passeando pelo local. A praça possuía lojas ao seu redor. Eu havia estado em Hermossilo muitas vezes, e mesmo assim nunca notara a existências das lojas. Sabia que elas ali estavam, mas a sua presença não era algo que eu conscientemente percebia. Eu não teria condições de desenhar um mapa da praça mesmo se minha vida dependesse disso. Naquele dia, enquanto andava com don Juan, tentava localizar e identificar as lojas. Procurava alguma coisa para usar como artifício mnemônico que iria ativar minha lembrança no caso de necessidade futura.

"Como já disse para você muitas vezes anteriormente," disse don Juan, sacudindo-me para fora de minha concentração, "cada feiticeiro que conheço, homem ou mulher, cedo ou tarde atinge um ponto crítico em sua vida."

"Você quer dizer que eles sofrem um colapso mental, ou algo parecido?" perguntei.

"Não, não," disse ele, rindo. "Colapsos mentais ocorrem nas pessoas auto indulgentes. Os feiticeiros não são pessoas. O que eu quero dizer é que em dado momento a continuidade de suas vidas tem que ser quebrada para que o silêncio interior possa ser instalado, tornando-se uma parte ativa de suas estruturas.

"É importante, muito importante," continuou don Juan, "que você mesmo atinja deliberadamente o ponto crítico, ou que você o crie artificial e inteligentemente."

"O que você quer dizer com isso, don Juan?" perguntei, fisgado pelo seu raciocínio intrigante.

"Seu ponto crítico," disse ele, "é interromper sua vida como você a conhece. Você fez tudo o que eu disse para você fazer, zelosa e acuradamente. Se você é talentoso, nunca o demonstrou. Esse parece ser o seu estilo. Você não é vagaroso, mas age como se fosse. Você é muito seguro de si mesmo, mas age como se fosse inseguro. Você não é tímido e mesmo assim age com se temesse as pessoas. Tudo o que você faz aponta para uma mesma direção: você necessita acabar com tudo isso, impiedosamente."

"Mas de que modo, don Juan? O que você tem em mente?" perguntei, genuinamente agitado.

"Penso que tudo se resume numa coisa," disse ele. "Você deve deixar seus amigos. Deve despedir-se deles, para sempre. Não é possível você continuar no caminho do guerreiro carregando sua história pessoal com você, e a menos que você interrompa seu modo de vida, não terei condições de continuar com a minha instrução."

"E agora, don Juan?" disse eu. "Tenho que colocar os pés no chão. Você está pedindo um preço muito alto. Para ser franco, acho que não posso pagá-lo. Meus amigos são minha família, meu ponto de referência."

"Exatamente, exatamente," afirmou ele. "Eles são o seu ponto de referência. Por isso, eles têm que sair de sua vida. Os feiticeiros têm apenas um ponto de referência: o infinito."

"Mas como você quer que eu proceda, don Juan?" perguntei com uma voz queixosa. Seu pedido estava fazendo-me subir pelas paredes.

"Você deve simplesmente sair," disse ele tranqüilamente. "Saia de qualquer modo que conseguir."

"Mas para aonde irei?" perguntei.

"Minha recomendação é que você alugue um quarto num desses hotéis de terceira categoria que você conhece," disse ele. "Quanto pior a aparência do mesmo, melhor. Se o quarto tiver tapetes verdes estragados, cortinas verdes estragadas, e paredes verdes estragadas, será então muitíssimo melhor – um lugar comparável àquele hotel que uma vez mostrei para você em LA."

Ri nervosamente ao lembrar-me da ocasião em que estive dando uma volta de carro com don Juan no setor industrial de LA, onde havia apenas depósitos e hotéis dilapidados para as pessoas em trânsito. Um hotel em particular chamou a atenção de don Juan por causa de seu nome bombástico: Eduardo Sétimo. Paramos por um momento na rua para apreciá-lo.

"Aquele hotel lá," disse don Juan, apontando para ele, "é para mim a representação verdadeira da vida na Terra para o homem comum. Se você tivesse sorte ou se fosse implacável, você alugaria um quarto com vista para a rua, onde você veria este desfile interminável da miséria humana. Se não tivesse tal sorte ou se não for tão implacável, você alugaria um quarto dos fundos, com vista para o prédio ao lado. Pense em passar a vida dividido entre essas duas vistas, tendo inveja da vista da rua se seu quarto for nos fundos, e com inveja da vista do prédio ao lado, se seu quarto for de frente, cansado de tanto olhar para fora."

A metáfora de don Juan aborreceu-me imensuravelmente, pois calou fundo em mim.

Agora, com a perspectiva de ter que alugar um quarto num hotel comparável ao Eduardo Sétimo, eu não sabia o que dizer ou para aonde ir.

"O que você quer que faça lá, don Juan?" perguntei.

"Um feiticeiro usa um lugar como esse para morrer," disse ele, olhando para mim sem piscar uma só vez. "Você nunca esteve sozinho em sua vida. Agora está na hora. Você ficará naquele quarto até morrer."

Sua exigência assustou-me, mas ao mesmo tempo, fez-me rir.

"Não é que eu vá fazer isso, don Juan," disse eu, "mas qual seria o critério para saber que morri? – a menos que você queira que eu morra de fato, fisicamente."

"Não," disse ele, "não quero que seu corpo morra fisicamente. Quero que sua pessoa morra. Essas duas coisas são muito diferentes. Em essência, sua pessoa tem muito pouco a ver com seu corpo. Sua pessoa é sua mente, e acredite-me, a sua mente não é sua."

"Que disparate é esse, don Juan, que minha mente não é minha?" ouvi a mim mesmo dizer com um acento nervoso em minha voz.

"Algum dia irei falar com você sobre isso," disse ele, "mas não enquanto você tiver seus amigos como amortecedores.

"O critério que indica que um feiticeiro está morto," continuou ele, "é o fato de não fazer nenhuma diferença para ele estar sozinho ou ter companhia. O dia em que você não cobiçar a companhia de seus amigos, que você usa com anteparos, esse será o dia em que sua pessoa morreu. O que você me diz? Você topa?"

"Eu não posso fazer isso, don Juan," disse eu. "É inútil tentar mentir para você. Eu não posso deixar meus amigos."

"Está tudo bem," disse ele imperturbável. O que eu disse pareceu não ter lhe afetado nenhum pouco. "Eu não terei mais condições de conversar com você, mas podemos dizer que durante o tempo em que passamos juntos, você aprendeu bastante. Você aprendeu coisas que farão de você uma pessoa muito forte, independentemente de você voltar ou extraviar-se."

Ele bateu em minhas costas e disse-me adeus. Deu meia volta e simplesmente desapareceu no meio das pessoas que estavam na praça, como se tivesse diluído-se entre elas. Por um instante eu tive a estranha sensação de que as pessoas na praça eram como uma cortina que ele tinha aberto e desaparecido depois atrás dela. O final chegou, como tudo no mundo de don Juan: rápida e imprevisivelmente. De repente, aquilo estava comigo, eu estava à sua mercê, sem que eu nem mesmo soubesse como aconteceu.

Eu deveria sentir-me esmagado. Isso, entretanto não ocorreu. Não sabia por que estava feliz da vida. Fiquei maravilhado com a facilidade como tudo terminou. Don Juan era certamente uma pessoa elegante. Não houve nenhuma recriminação, nem raiva, nem nada parecido, nada. Entrei no carro e comecei a dirigir, feliz como uma cotovia. Eu estava excitado. Como era extraordinário o modo como tudo terminara tão depressa, pensava eu, sem nenhum trauma, sem nenhuma dor.

Minha viagem de volta para casa foi tranqüila. Em LA, estando em meu ambiente familiar, percebi que absorvera uma enorme quantidade de energia em meu último encontro com don Juan. Estava realmente muito feliz, relaxado, e retomei o que considerava ser minha vida normal com sabor renovado. Toda a minha atribulação com meus amigos, e tudo o que percebera sobre eles, tudo o que dissera a don Juan a esse respeito, tudo, tudo estava definitivamente esquecido. Era como se alguma coisa tivesse apagado tudo de minha mente. Fiquei maravilhado por duas vezes com a facilidade com que esquecera algo que fora tão significativo, e de como esse esquecimento fora tão completo.

Tudo estava como esperava. Havia apenas uma única inconsistência que perturbava o claro paradigma de minha volta à boa vida anterior: lembrava-me distintamente de ouvir don Juan dizer-me que minha partida do mundo dos feiticeiros era puramente acadêmica, e que eu voltaria. Eu lembrei-me de ter anotado cada uma das palavras de nossa conversa. De acordo com o meu modo linear de raciocinar e lembrar-me das coisas, don Juan nunca dissera tal coisa. Como seria possível que eu me lembrasse de coisas que nunca aconteceram? Eu ponderei sobre aquilo sem conseguir esclarecer nada. Minha pseudo lembrança era bastante estranha para que eu pudesse levá-la a sério, mas então decidi que não mais iria pensar no assunto. No que me dizia respeito, estava fora do ambiente de don Juan.

Seguindo as sugestões de don Juan com relação ao meu comportamento para com as pessoas que de algum modo me favoreceram, eu cheguei a uma conclusão que para mim era tremenda: honrar e agradecer meus amigos antes que fosse tarde demais. Um caso específico era o meu amigo Rodrigo Cummings. Um incidente envolvendo meu amigo Rodrigo, entretanto, desmoronou meu novo paradigma do que resultou outros desmoronamentos até a destruição total.

Minha atitude para com ele mudou-se radicalmente quando eu consegui vencer minha competitividade para com ele. Descobri que era a coisa mais fácil do mundo para mim projetar-me cem por cento em qualquer coisa que Rodrigo fizesse. Eu era, de fato, exatamente igual a ele, mas só descobri isso depois que parei de competir com ele. A verdade então emergiu para mim com uma clareza enlouquecedora. Um dos desejos mais ardentes de Rodrigo era terminar o colégio. Cada semestre, ele matriculava-se no maior número permitido de matérias. Depois, quando o semestre avançava, ele desistia de cada uma das matérias, uma atrás da outra. Em algumas vezes ele até mesmo saía da escola. Em outras vezes, ele fazia um curso de três matérias durante todo o semestre até o final amargo.

Durante seu último semestre, ele fazia um curso de sociologia porque gostava da matéria. O exame final aproximava-se. Ele me disse que tinha três semanas para estudar, para ler o livro texto do curso. Ele pensava que tal quantidade de tempo era um desperdício para ler apenas seiscentas páginas do livro. Considerava-se uma espécie de leitor-relâmpago, e que retinha o que lia em um nível muito alto; em sua opinião, sua memória era cem por cento fotográfica.

Ele pensava que tinha muito tempo para o exame e por isso pediu-me para ajudá-lo no recondicionamento do seu carro no sentido de facilitar jogar papel fora. Queria remover a porta direita para poder jogar o papel pela abertura com a mão direita, em lugar de jogar o papel sobre a capota do carro, com a esquerda. Chamei sua atenção para o fato de que era canhoto e ele então argumentou que, entre suas múltiplas habilidades, uma delas era ser ambidestro, fato que nenhum de seus amigos notara. Tinha razão nessa parte; eu mesmo nunca notara isso. Depois que lhe ajudei a remover a porta, ele decidiu remover também o forro do teto, que estava muito estragado. Ele disse que seu carro estava em ótimas condições na parte mecânica e que iria levá-lo a Tijuana, no México, cidade que ele, como bom angelino que era, chamava de TJ, e onde trocaria o forro por alguns poucos dólares.

"Poderíamos aproveitar a viagem," disse ele alegremente. Chegou até mesmo a escolher os amigos que iriam com ele. "Em TJ, estou certo de que você irá procurar livros usados, porque é um bobo. O restante da turma irá para algum bordel. Eu conheço uma porção deles."

Gastamos uma semana para tirar o forro velho e lixar o teto para receber o novo. Rodrigo então ficou com apenas duas semanas para estudar e ainda considerava esse tempo muito longo. Ele então engajou-me em ajudá-lo a pintar seu apartamento e consertar o assoalho. Levamos uma semana para pintar o apartamento e lixar o assoalho de madeira. Em um dos quartos, ele não quis pintar sobre o papel de parede que já existia. Teria que alugar uma máquina que removia o papel pela aplicação de vapor d’água. Nem eu e nem Rodrigo, naturalmente, sabia como usar devidamente a máquina, e por isso fizemos o serviço mais porco do mundo. No final, tivemos que usar um produto chamado "Topping", uma mistura muito fina de gesso e outros produtos, que deixava a parede bastante lisa.

Depois de todo esse esforço, acabou que Rodrigo só ficou com dois dias para enfiar na cabeça as 600 páginas do livro. Ele entrou freneticamente numa maratona de leitura durante o dia e a noite, com a ajuda de anfetaminas. Rodrigo foi para a escola no dia do exame, sentou-se em sua carteira, e pegou a folha de múltipla escolha.

O que ele não conseguiu fazer foi ficar acordado para preencher a folha do exame. Seu corpo pendeu para a frente e sua cabeça bateu na carteira com um terrível baque. O exame teve que ser suspenso por um momento. O professor de sociologia ficou histérico, e o mesmo aconteceu com os alunos que estavam nas proximidades de Rodrigo. Seu corpo estava rígido e frio como gelo. A classe inteira suspeitou do pior; pensaram que ele morrera de um ataque do coração. Foram chamados paramédicos para removê-lo. Depois de um rápido exame, eles declararam que Rodrigo dormia profundamente e levaram-no para um hospital para que dormisse até passar o efeito da anfetamina.

Minha projeção em Rodrigo Cummings era tão completa que me assustou. Eu era exatamente como ele. A similitude tornou-se insustentável para mim. Num ato que considerei um aniquilamento total e suicida, aluguei um quarto num hotel dilapidado de Hollywood,

O carpete era verde e tinha manchas horríveis de cigarros queimados, que foram naturalmente esmagados com os pés antes que o carpete pegasse fogo. O quarto tinha cortinas verdes e paredes verdes em mal estado de conservação. O sinal luminoso do nome do hotel, que podia ser visto pela janela, piscava durante toda a noite.

Acabei por fazer o que don Juan recomendara, mas de maneira indireta. Eu não fiz o que fiz para atender qualquer exigência de don Juan ou com a intenção de aplainar as nossas arestas. Permaneci no hotel por meses sem fim, até que minha pessoa, como propusera don Juan, morresse, até que verdadeiramente não fizesse nenhuma diferença para mim estar só ou com amigos.

Depois de deixar o hotel, fui morar sozinho, mais perto da escola. Continuei meus estudos de antropologia, que nunca interrompera, e iniciei um negócio muito lucrativo tendo uma mulher como sócia. Tudo parecia estar perfeitamente em ordem até o dia em que fui atingido por uma percepção que pareceu como um tijolo jogado em minha cabeça: percebi que iria passar o resto de minha vida preocupando-me com meu negócio, ou preocupado com o fantasma da escolha entre ser acadêmico ou um negociante, ou preocupando-me com as fobias e embromações de minha sócia. Um verdadeiro desespero perfurava-me nas profundezas de meu ser. Pela primeira vez em minha vida, a despeito de todas as coisas que tinha feito e visto, sentia-me num beco sem saída. Estava completamente perdido. Comecei seriamente a brincar com a idéia do modo mais pragmático e indolor de dar cabo de minha vida.

Certa manhã uma batida alta e insistente acordou-me. Pensei que fosse a senhoria, e estava certo de que se não respondesse, ela teria entrado com sua chave mestra. Abri a porta, e ali estava don Juan! A minha surpresa foi tanta que fiquei tonto. Eu balbuciei e gaguejei, incapaz de dizer uma só palavra. Queria beijar sua mão, ajoelhar-me aos seus pés. Don Juan entrou e sentou-se na beira da cama tranqüilamente.

"Fiz a viagem a LA," disse ele, "só para te ver."

Queria que ele tomasse café comigo, mas ele disse que tinha outras coisas para fazer, e que dispunha apenas de alguns momentos para conversar comigo. Eu contei para ele, apressadamente, a minha experiência no hotel. Sua presença causou-me tanta confusão que eu nem lembrei-me de perguntar-lhe como descobriu o meu endereço. Disse para ele que sentia um remorso intenso por ter dito as palavras que disse em Hermosillo.

"Você não tem que se desculpar," garantiu-me ele. "Cada um de nós faria a mesma coisa. Certa vez, eu mesmo deixei o mundo dos feiticeiros numa carreira desabalada, e quase que tive que morrer para perceber a estupidez do meu ato. O que importa é atingir o ponto crítico, do modo que for, e isso foi exatamente o que você fez. O silêncio interior está tornando-se real para você. Essa é a razão pela qual estou aqui na sua frente, falando com você. Entende o que quero dizer?"

Pensei ter entendido o que ele disse. Pensei que ele tivesse intuído ou lido, pelo modo com que ele lia as coisas no ar, que eu estava no fundo do poço e que ele tinha vindo para me resgatar.

"Você não tem nenhum tempo a perder," disse-me ele. "Deve dissolver a sua firma comercial dentro de uma hora, porque esse é o tempo de que disponho para esperar por você – não porque eu não possa esperar mais, mas porque o infinito está pressionando-me impiedosamente. Digamos que o infinito está dando uma hora para você anular a si mesmo. Para o infinito a única empreitada de um guerreiro que vale a pena é a liberdade. Qualquer outra é fraudulenta. Você pode dissolver tudo em uma hora?"

Não tive que assegurar-lhe que conseguiria. Sabia que tinha que conseguir. Don Juan disse-me então que uma vez realizada a tarefa, deveria encontrar-me com ele no mercado de uma certa cidade do México. Em meu esforço de pensar como terminar meu negócio, não entendi direito o que ele falou. Ele repetiu o que dissera e, é claro, pensei que estivesse brincando.

"Como irei até essa cidade, don Juan? Você quer que eu vá de carro, que tome um avião?" perguntei.

"Dissolva o seu negócio primeiro," ordenou ele, "e então a solução virá. Mas lembre-se, estarei esperando por você por apenas uma hora."

Ele saiu do apartamento, e eu esforcei-me febrilmente para dissolver tudo o que tinha. Naturalmente, gastei mais de uma hora, mas não parei para pensar nisso porque uma vez iniciada a dissolução dos meus negócios, o seu momentum levou-me de roldão. Foi somente depois de tudo terminado que o dilema real surgiu na minha frente. Senti então que falhara e que não havia nenhuma esperança para mim. Encontrava-me sem meus negócios e sem nenhuma possibilidade de ir ao encontro de don Juan.

Fui para a cama e busquei o único consolo que me veio à mente: quietude, silêncio. Para facilitar o aparecimento do silêncio interior, don Juan ensinara-me um modo de sentar-me na cama, com os joelhos dobrados e as solas dos pés juntas, as mãos empurrando os pés juntos, segurando-os pelos calcanhares. Ele dera-me uma grossa cavilha que eu sempre levava comigo para aonde fosse. Tinha cerca de 35 cm e destinava-se a suportar o peso de minha cabeça quando tombada para a frente; uma ponta ficava entre meus pés e a outra, que era almofadada, ficava no meio de minha testa. Todas as vezes que eu ficava em tal posição, caía no sono em questão de segundos.

Devo ter caído no sono com minha facilidade usual, pois sonhei que estava na cidade mexicana onde don Juan disse que me encontraria. Eu sempre ficava intrigado com essa cidade. O mercado só abria uma vez por semana, quando os fazendeiros da redondeza traziam seus produtos para serem vendidos. O que mais me fascinava nessa cidade era a estrada pavimentada que conduzia a ela. No ponto em a estrada chegava na cidade, a topografia possuía uma lombada forte. Eu sempre ficava sentado próximo de uma banca que vendia queijos e olhava para tal lombada. Via as pessoas que chegavam à cidade com seus jumentos carregados com as mercadorias, mas primeiro via apenas suas cabeças; quanto mais se aproximavam, maiores partes de seus corpos podiam ser vistas, até o momento em que atingiam a parte mais alta da lombada, quando então via todo o corpo delas. Eu tinha a impressão de que tais pessoas emergiam-se de dentro da terra, seja vagarosamente seja rapidamente, dependendo de sua velocidade. Em meu sonho, don Juan esperava por mim próximo da banca de queijo. Aproximei-me dele.

"Você conseguiu, a partir do seu silêncio interior," disse-me ele, batendo em minhas costas. "Você atingiu seu ponto crítico. Por um momento comecei a perder a esperança. Mas dei umas voltinhas por aí, pois sabia que você iria conseguir."

Nesse sonho, nós fomos dar umas voltas. Eu estava mais feliz que nunca. O sonho era tão vívido, tão terrivelmente real, que me deixou convencido, sem nenhuma dúvida de que resolvera meu problema, ainda que a solução fosse apenas uma fantasia, um sonho.

Don Juan riu, balançando a cabeça. Ele, claramente, lera meus pensamentos. "Você não está meramente sonhando," disse ele, "mas quem sou eu para dizer isso para você? Você, algum dia, irá saber disso por você mesmo – que não existe sonho a partir do silêncio interior – porque você irá escolher conhecer isso."